sábado, 20 de agosto de 2011

5º Dia de gravação – Velha-Guarda do Rosas de Ouro: Dicá, Maria Helena, Mug



E pelo que parece São Pedro quer entrar nos créditos do documentário de qualquer jeito, pois em mais uma gravação ele nos premia com um dia lindo de sol forte. Mais uma vez, o time se reúne inicialmente no Largo do Paissandú e a missão do dia é entrevistar três dos principais integrantes da Velha-Guarda da Escola de Samba Rosas de Ouro: Dicá, Maria Helena e Mug.
Quem abriu as portas de sua casa, muito amavelmente, foi Mug, compositor e um dos fundadores do Rosas de Ouro, lá realizamos quase duas horas de gravação, que nos renderam depoimentos emocionantes sobre como eram as escolas de samba no início de sua formação, a realidade dos integrantes da escola, a falta de reconhecimento dos antigos sambistas pela sociedade e também curiosidades sobre os instrumentos musicais da época.
Dicá nos falou que o tamborim era quadrado e que os instrumentos eram feitos com couro e eram aquecidos no jornal, na fogueira, da mesma forma que já havia sido comentado numa entrevista anterior, pelo amigo do Zeca, ou seja, é ver pra crer no tamborim quadrado!
Maria Helena, que por dez anos esteve à frente do Rosas de Ouro, como primeira dama, comentou da falta de um Memorial em homenagem aos negros, assim como há no bairro da Liberdade, em São Paulo, há o Memorial em homenagem aos japoneses que migraram ao país. Questionamento bem colocado, afinal, a contribuição dos negros africanos na construção deste país foi imprescindível!
Dicá que, juntamente com a esposa Maria Helena, foram nomeados Cidadãos Samba de 2004 Embaixadores do Samba Paulistano, lembrou da época dos seus pais, quando havia ainda bastante opressão da polícia para com os sambistas, quando havia a “Lei da Vadiagem”, que abria a possibilidade de pessoas humildes e sem emprego serem presas pelo simples fato de estarem na rua sem fazer nada e não terem emprego. Mais quem não tinha emprego naquela época? Principalmente eram cidadãos negros, que, quando era pela falta da famosa “boa aparência” era pela falta de estudo que não conseguiam emprego, e, além disso, eram coibidos de perambular pelas ruas com a possibilidade de serem presos pela policia que se respaldava na famosa “Lei da Vadiagem”. Este fato comentado me lembrou cenas do filme “Uma onda no ar”, do diretor Helvécio Ratton, que aliás é um bonito filme sobre a rádio comunitária de Belo Horizonte, com um olhar atento e menos estereotipado que a maioria dos filmes sobre o tema.
Maria Helena, Dicá e Mug compartilharam conosco histórias e relatos de um preciosismo enorme, sabedoria pura. Com suas vozes afinadas cantaram músicas feitas pelo Zeca e por eles mesmos, que o homenagearam com suas letras e melodias. Foi um momento muito emocionante.
Algumas características do Zeca da Casa Verde são mencionadas com regularidade pelos nossos entrevistados: principalmente sua genialidade e humildade. A cada dia parece que nos tornamos mais íntimos do nosso protagonista “Zeca”, sentimos como se ele fosse uma pessoa próxima, e a cada entrevista desvendamos mais algum mistério da sua bonita e persistente caminhada.
Obrigada Maria Helena, Dicá e Mug! Obrigada Zeca!
Trocando ideia entre as gravações:
Entre uma gravação e outra, entre um almoço, um suco de laranja e uma cerveja o grupo sempre inicia uma discussão ou uma troca de ideia, principalmente sobre temas relacionados ao nosso trabalho e áreas de interesse: filmes, músicas, questões da negritude (e são tantas!).
Quase tão ricos quanto às próprias entrevistas, esses momentos tornam-se um espaço onde podemos discutir assuntos ligados as atividades de cada um de nós, que tem pontos de intersecção, é claro, e que não podemos discutir facilmente em outros grupos sociais dos quais fazemos parte. Ah! A velha questão da identidade, da identificação, de conseguir ser e sentir-se compreendido.
Desabafos a parte a discussão de hoje versou sobre os filmes: “Bróder”, do Jeferson De, “Ônibus 174”, “Tropa de elite 1” e “Tropa de elite 2” do diretor José Padilha. Afinal quem consegue sair do estereótipo ou não? Colocar atores negros protagonistas em cena é importante? “Pô, mas esse filme não saiu do censo comum!”, “Ah, mas o filme mostra a realidade!”, foram essas e outras questões que nós nos fizemos. A discussão vai longe, então paro por aqui. Só mais dois pontos lembrados pelo Akins para gente pensar: será que nós, enquanto pessoas envolvidas com a causa negra sempre nós sentiremos retratados de forma incompleta pelos filmes?, e segundo, se a “responsa” tivesse no nosso nome será que iríamos conseguir fazer algo diferente do que criticamos? Fica aí o dilema.

Fotos: Cassimano.

domingo, 31 de julho de 2011

4º Dia de gravação –Celso de Lima, Presidente da Escola Prova de Fogo e Deise Benedito


Na manhã deste dia, entrevistamos Celso de Lima, amigo do Zeca da Casa Verde, presidente da escola de samba Prova de Fogo. Ele nos falou sobre as dificuldades passadas pelos negros na época de constituição da escola, e até hoje. Rememorou aquela época poética de criação de instrumento onde se matava mesmo de verdade verdadeira: gatos, cabritos pra vestir os antigos instrumentos, onde afinava na fogueira.
A tarde do nosso quarto dia de gravação foi premiada com a irreverência e sapiência de Deise Benedito, ativista política da área de direitos humanos. A conversa se deu no Centro Cultural São Paulo, lá na Vergueiro, ela dividiu conosco o resultado de suas pesquisas sobre a repressão em cima das manifestações culturais de origem negra, samba, hip hop, carnaval, que sofreram e continuam sofrendo coação de instituições governamentais.


Fotos: Cassimano.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

3º Dia de gravação – Ras Sergio e Jair Rodrigues


Pela tarde chegamos até a residência do Jair Rodrigues que na década de oitenta gravou alguns sambas do Zeca da Casa Verde. Tranqüilo, Jair Rodrigues nos contou sua vivencia com o poeta e a qualidade de suas músicas batucou na mesa e cantarolou: “Nada de um minuto de silêncio, vamos cantar por aí”. Foi emocionante, mostrou um disco que gravou “Procissão de Zeca da Casa Verde”, pôs o disco na vitrola e cantou alegremente o samba.



Fotos: Cassimano.

domingo, 17 de julho de 2011

2º Dia de gravação - Professor Amailton



Começo da tarde de um sábado e lá estava a equipe seguindo para os muros de concreto da Puc – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Vítima do dia: Professor Amailton, pesquisador “monstro” do samba de São Paulo. Com uma oratória de dar inveja a Aristóteles, o professor nos revelou várias histórias do samba, desde o samba no interior de São Paulo, o samba de trabalho, nos contou momentos do cordão e daquele carnaval de rua onde as quituteiras eram um marco interessante no samba do lado de cá de Sampa e várias outras ideias...
Só pra dar um “gostinho na boca” do leitor: ele explicou porque os sambistas sempre procuravam trajar-se muito bem, na verdade eles queriam afastar a associação entre samba e vagabundo disseminada pela sociedade. Também comentou que os bairros de Barra Funda e Perdizes eram antigos bairros de migração negra, fato comentado também no documentário dos Racionais. Comentou que na Praça da Liberdade, era um antigo local de tortura de negros e um cemitério, hoje lá está a Capela de Santa Cruz das Almas dos Enforcados ou Igreja das Almas, que ainda mantém uma energia muito forte. Amailton também comentou que esses bairros com ocupação negra na verdade eram quilombos, coisa muito pouco divulgada, pois sempre achamos que haviam poucos quilombos em São Paulo, no entanto eles existiram e o local em que estavam está muito mais próximo do que imaginamos.
Bom o resto da entrevista é segredo e vocês vão poder conferir tudo no doc.
Axé, família!
Fotos: Cassimano.

domingo, 10 de julho de 2011

1º Dia de gravação: Dona Guga, casa do Barriga e casa da família do Zeca


No dia dez de julho, demos inicio as gravações para o filme “Zeca, o Poeta da Casa Verde”, domingo de sol, dez horas da manhã, aportamos no Morro da Casa Verde no Bangalô da Dona Guga Presidenta do SC Morro Da Casa Verde, uma das primeiras escolas em que o Zeca compôs suas poesias musicadas, belos sambas. Dona Guga nos contou com alegria e lágrimas nos olhos a bela passagem que o poeta teve pela Agremiação.
Depois vivenciamos em um churrasco no bairro do Pedroso, na casa do Barriga, umas idéias com os companheiros do Rosas de Ouro: velho Bassú, da Velha-Guarda da bateria do Roseira, Xandy e Edvaldo, da bateria do Rosas de Ouro. Foi o Patrãozinho quem fez a ponte pra trazer os parceiros e o Carioca também colou somando.
Falar sobre o Zeca da Casa Verde pra rapaziada do Pedroso foi um prazer, eles compartilharam suas idéias, falaram como fãs, pois, na época, eram meninos e viram o talento e humildade do poeta. Cantarolam uns de seus sambas batucando em balde, frigideira e garrafa. No domingo à noite, fomos à casa de Dona Leonor companheira de Zeca da Casa Verde, onde entrevistamos os filhos do poeta Zeca: Soniae e Ziza e a própria Dona Leonor sua companheira de toda a vida. Muito lindo o momento onde nos revelaram algumas intimidades do poeta de como ele compunha suas canções, seu estilo “família” e tranqüilo de ser. E assim fechamos o domingo com as filmagens que chamariam esses três momentos de trio ternura, que “pelamor”, instigou pra que mal pudéssemos esperar para falar com o professor Amailton.

Trocando ideia entre as gravações:

Gravar com amigos sobre um tema que todos apreciam é como realizar um sonho. Só de estar ali fazendo parte já é um aprendizado para nós, afinal, aprender ouvindo é uma das formas mais antigas de transmitir ensinamentos aos mais jovens, e essa jovem equipe, que também não é mais tão jovem assim, está aprendendo com cada palavra e cada instante doado pelos nossos entrevistados. Não podemos deixar de citar que nesse dia, a equipe foi recebida na casa da avó do Akins, onde prepararam um almoço incrível para fortalecer o time de gravação. Exemplo de mulher guerreira, como boa brasileira ela nos recebeu com o maior amor no coração, valeu vovó! A equipe agradece! Ei, Produção, anota no nome dela aí!